Minhas divagações

Dizem que 'escrever e coçar é só começar', então vamos lá!
Criei este espaço para compartilhar um pouco as minhas reflexões sobre a vida.
Fique a vontade para interagir comigo. Bjs

sábado, 9 de outubro de 2010

EU AINDA QUERO O ELE QUERIA....


Eu queria ter e ser

Eu queria ter tipo um campo pra jogar
com todos os meus amigos.
Eu queria ter tipo uma vida menos corrida.
Eu queria ter uma vida menos confusa.
Eu queria acordar vendo uma cachoeira, todo dia.
Eu queria poder tomar banho nela quando quisesse.
Eu queria poder parar de procurar o amor.
Eu queria poder dormir abraçadinho com alguém.
Eu queria poder abrir a janela e olhar grandes
montanhas forradas de verde.
Eu queria poder dizer que sou feliz.
Eu queria poder dar aula numa escolinha no interior,
pra um monte de criança inocente.
Eu queria ter tipo uma mensagem que fizesse as pessoas desistirem de carrões, de grandes sonhos de consumo.
Eu queria ter tipo o poder de convencer que
as pequenas coisas são as mais gostosas.
Eu queria ser tipo mais compreensivo.
Eu queria ser tipo mais amigo.
Eu queria ser tipo um morador de uma casinha
dentro de um cenário qualquer.
Eu queria que pessoas como o Renato e o Cazuza
tivessem tido o que tanto cantavam, o amor.
Eu queria ter conhecido a Emília e o Visconde.
Eu queria ter um poço de pesca pra mim
e pros meus amigos.
Eu queria ter tipo uma máquina do tempo,
para poupar tanto sofrimento.
Eu queria ter uma cabana, com gelo no teto
e árvores em volta.
Eu queria nem saber o que é dinheiro.
Eu queria acordar com um grande café
da manhã na minha cama.
Eu queria registrar aquele sorriso
naquele dia para sempre.
Eu queria poder saber o que será do meu povo amanhã.
Eu queria saber dizer mais coisas agradáveis.
Eu queria que todos comemorassem o Natal de verdade.
Eu queria um dia poder voar como pássaro.
Eu queria ser tipo uma frota contra o mal.
Eu queria saber o que é o mal.
Eu queria ser tipo um cara que deixou algo pra alguém.
Eu queria poder mostrar aquele momento em que menino dividiu com todo mundo o pão velho que comia numa viela.
Eu queria poder entender como os engravatados
podem comer numa mesa onde o almoço é mais caro que o salário da maioria dos brasileiros e mesmo assim dormem tranqüilos.
Eu queria ser tipo um cara sem insônia, sem gastrite, 
sem dores fortes na alma.
Eu acho que queria ser desenhista.
Eu acho que queria ser só alguém num mundo legal.
Eu acho que ainda queria ter a esperança boba de achar que poderia fazer a diferença nessa bagunça de mundo.
Eu acho que vou dormir.
Eu também acho que amanhã bem cedo
vou procurar realizar pelo menos algo disso tudo,
e você o que acha?

Ferréz, escritor, autor de Capão pecado e 
Manual prático do ódio (Objetiva).
In revista Caros Amigos, janeiro de 2002.

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