domingo, 29 de agosto de 2010
5º dia - Choro
Um dos meus anjos tornou-se mãe há pouco tempo e fui visitá-la na semana passada. Houve um momento em que o bebê chorou ao acordar e eu fui pegá-lo. Balancei, pus chupeta, enrolei melhor os seus panos e nada de parar. Quando vi que não ia dar conta, entreguei à mãe.
Como é difícil compreender o choro de um bebê! Será fome, frio, dor, xixi, cocô? Como descobrir o que lhe incomoda? E como incomoda o seu choro, pelo fato de não saber identificar a razão.
Sei que minha irmã, quando criança chorou muito. Minha mãe não diz, mas acho que eu nunca fui muito chorona não. Já um pouquinho maior, lembro-me da primeira vez que fui tomar injeção. Chegamos ao posto de saúde e a cena me incomodou. Havia crianças chorando no corredor, outras que saiam de uma determinada sala também choravam e eu não conseguia entender o porquê. Sabia que eu estava ali para tomar uma simples vacina. Quando chegou a minha vez eu comecei a chorar também, mas não era de medo. Era para não ser diferente. Todas choravam, então me senti na obrigação de chorar também. Lembro-me que minha mãe disse que não era nada para ter medo, que era igual uma formiguinha mordendo na gente. E assim foi. Na hora em que a agulha entrou em meu braço, eu parei de chorar e pensei: “É isso? E porque esses meninos choram tanto? Molezas!!” E saí da sala com um baita de um sorriso orgulhoso, pois não achei nada demais tomar a tal vacina.
E assim cresci, encarando a vida com muita seriedade, sem dar espaço para o choro. Na verdade, poucas coisas me fizeram chorar.
Quando meu avô materno faleceu, minha irmã, depois do enterro me fez a seguinte cobrança: “Você não chorou.” Senti como se ela dissesse: ‘você não sofreu com a morte do vovô’. Sofri sim, e muito. Foi a primeira vez na minha vida que tive que encarar a morte de alguém tão querido e próximo. Fiquei muito mal por não ter conseguido chorar. No entanto, chorei tudo um tempo depois com a morte da avó, mãe de minha mãe. Não tanto pela perda dela, mas pela dor e tristeza de minha mãe. Coloquei-me no lugar dela...
Depois disso tiveram algumas poucas ocasiões em que fui acometida por um copioso choro. Minha formatura na faculdade foi uma delas. Só que não foi por emoção, foi por frustração. Outras frustrações me fizeram chorar também, por aí ao longo desses trinta e poucos anos de vida.
Não últimos anos o choro não é tão raro mais. Tem me visitado em muitos momentos. Não gosto que outras pessoas me vejam chorando. Sou do tipo ‘durona’ mesmo, mas choro. Escondida, choro à beça. Choro vendo filme; choro lendo livro; choro vendo amigo sofrer, choro vendo amigo feliz; choro em casamento, em celebrações, em cultos, em datas especiais, em aniversários. Choro ao observar um pôr-do-sol, choro ao ouvir uma música, choro de saudade. Choro muitas vezes sem motivo aparente.
Sem saber a razão, termino de escrever esse texto chorando copiosamente...
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Quando ele vem sem motivo é para lavar a alma e nos deixar mais leves. Ele tem essa característica tb!
ResponderExcluirBelo texto!