quinta-feira, 26 de agosto de 2010
2º dia - AVENTURA
Não sou do tipo aventureira, mas gosto de uma boa aventura. E o que pode ser uma aventura para mim, pode não ser para você. Gosto de fazer coisas diferentes, coisas que saiam da rotina, coisas que me desafiem, coisas que ajudem a superar meus medos...
Gosto de aproveitar as oportunidades, de enfrentar as adversidades, pois elas só dão mais sabor aos desafios, aos sonhos, as aventuras especificamente, como aqui no caso.
Tudo que se refere à natureza me encanta: um pássaro voando, uma árvore florida, um rio de águas límpidas, a lua crescendo lentamente, um céu salpicado de estrelas, um pôr-do-sol... Ah! Como me encanta esse último!
Todo esse prazer de está em contato com a natureza e poder apreciá-la, fizeram-me certa vez, aceitar prontamente um convite para subir até o Pico da Bandeira. Não pensei no frio, no cansaço, na altitude, em nada que pudesse me fazer desistir. Apeguei-me no prazer da aventura, de fazer algo diferente que me proporcionaria como presente, apreciar o nascer do sol, no ponto mais alto do meu estado e terceiro ponto mais alto do meu país.
Lá fomos nós, um grupo de 15 pessoas, entre elas apenas 3 mulheres [uma delas eu]. Uma linda lua cheia nos acompanhou durante boa parte da subida e nem precisamos acionar nossas lanternas. Como não fomos para acampar, iniciamos a subida um pouco mais tarde para que não precisássemos ficar muito tempo em um dos pontos de parada. Mesmo assim, lá pelas 2horas da manhã, chegamos ao acampamento e lá tivemos que esperar por longas duas horas. Para nos aquecermos, aumentamos os agalhasos, tomamos chocolate quente que um ou outro levou e nos achegamos mais próximos, enquanto papeávamos.
Depois disso retomamos a subida no mesmo ritmo e mais pessoas de outros grupos fizeram o mesmo. Tão logo pegamos a trilha, uma densa neblina atrapalhou a nossa visão. Agora sim, cada um acionou a sua lanterna. Ao longe alguém chamou a atenção para alguns relâmpagos, mas estavam tão distantes que ninguém se afligiu, inclusive eu, que não gosto nenhum um pouco.
Entretanto, o inesperado aconteceu, em menos de uma hora, fomos surpreendidos por uma forte ventania, acompanhada de raios que anunciavam a tempestade, a qual estava prestes a chegar. Paramos um pouco e tentamos nos preparar para a chuva. Não sei por que dentro de minha mochila tinha uma sobrinha e me apeguei a ela para me proteger um pouco. Na verdade, não estava nem aí se ia me molhar ou não. Minha preocupação maior era os raios. Eu sempre tive muito, muito, muito medo de relâmpagos.
Quando era criança, minha mãe nos acordava, eu e minha irmã, em noites de tempestades, para nos esconder debaixo da mesa. Não sei, mas quando criança, a dimensão do que acontece conosco, parece ser muito maior, parece-me que assim também eram as tempestades: assustadoras; os raios horríveis; portanto, temíveis!
E durante todos esses anos de minha vida, nunca imaginei vivenciar uma situação, onde eu estaria num lugar longe de casa, da minha família, de tudo que me dá segurança tendo que enfrentar algo que me dá tamanho pavor: tempestade, ventania, chuva, raios, trovões.
Estávamos a menos de uma hora do cume, quando ela nos pegou e nada pudemos fazer, a não ser rezar. Foi em Deus que me apeguei naquele momento. Era um raio em cima do outro, em cima de nós; muito vento; muita chuva. Minha sombrinha não parava aberta, a todo momento era revirada pelo vento. Tivemos que voltar no mesmo instante em que começou a chover, pois molhados lá em cima, não resistiríamos e também não veríamos o grande espetáculo ao amanhecer: o nascer do sol.
O momento mais crítico e para mim mais marcante nessa volta foi, encontrar a trilha correta em meio a enxurrada, equilibrar para não cair, pois também não conseguíamos ver onde pisar com segurança, devido as muitas pedras. E nessa hora o grupo se ajuntou ainda mais, um se preocupava em cuidar do outro. Um colega estava com uma filmadora pesada, tropeçou, quase se machucou. Meu receio era exatamente esse, se alguém se machucasse gravemente naquela trilha, seria muito difícil a locomoção, o resgate, o socorro, então tivemos que redobrar a atenção, o cuidado. Toda essa tensão, essa preocupação um com outro, o cuidado com os outros, a ajuda recebida e retribuída naqueles instantes e meu apego ao Papai do Céu que nos guiava, me fizeram esquecer o medo, superar o cansaço e encontrar forças para voltar em um pouco mais de duas horas, um percurso que havíamos feito durante aquela longa noite fria.
A tristeza e decepção eram visíveis em todos nós ao amanhecer, quando chegamos ao carro para retornar à nossa cidade. O cansaço era tamanho, que durante o percurso, sequer conversamos, todos dormimos. Muitos disseram que mesmo não tendo atingido o objetivo do passeio, não mais retornariam àquele lugar.
O mais interessante é que essas mesmas pessoas estavam no ano seguinte vivenciando a mesma aventura, inclusive eu. Só que dessa vez fomos agraciados com um lindo, indescritível espetáculo da natureza: um belo nascer do sol!!
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Nossa, em todas as suas narrativas sobre esse episódio, essa foi a máis palpável. Senti medo agora tb, mas mesmo assim ainda quero ir lá.
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